segunda-feira, março 11, 2013

Primeiro encontro de 2013

Fizemos a primeira reunião de 2013 do grupo ISE na sexta-feira, 8 de março. 
Estavam presentes Fabíola Stein, Ingrid Frank, Marcela F. R. Lopes, Neiva M. Jung, Paola G. Salimen e Pedro M. Garcez.
Na confraternização após a reunião!

quarta-feira, março 06, 2013

Relato curso Etnometodologia - USP


Entre os dias 24 de fevereiro e 1º de março, Fabíola, Ingrid e Marcela participaram de um curso sobre Etnometodologia promovido pelo professor Leland McLeary na Universidade de São Paulo (USP). No curso, ministrado pelo Prof. Kenneth Liberman, emérito do Depto. de Sociologia da Universidade de Oregon, foram desenvolvidos tópicos fundamentais da Etnometodologia, especialidade do professor Liberman.

Programação do curso
Ao longo do curso, foi enfatizado que, na visão etnometodológica, a investigação é sempre um exercício de “bracketing”, isto é, um esforço de suspensão do julgamento de adequação, valor ou sucesso da organização social. Embora o próprio Prof. Liberman tenha afirmado que é praticamente impossível lançar um olhar absolutamente não tendencioso para um fenômeno social, ainda assim parece mais produtivo tentar fazer isso do que partir de uma teoria para aplicar/explicar os fenômenos sociais. Em oposição às grandes teorias sociais, Kenneth Liberman chamou a Etnometodolgia de “grounded theory”. 

O reforço dessa oposição pelo Prof. Liberman, todavia, gerou diversos questionamentos dos participantes do curso, sobretudo em relação ao compromisso da Etnometodologia em não generalizar. Se não há generalizações, o que se quer é volumes grandes de descrições? Qual seria a validade disso? A descrição de métodos para a organização da conversa, tal como em Sacks, Schegloff & Jefferson (1974) não seria um tipo de generalização? Em resposta, Liberman apenas destacou que sua crítica quanto a generalizações está nos procedimentos tradicionais de pesquisa, que, por vezes, partem de reflexão anterior do analista, para então ver o que está de fato acontecendo no mundo. Além disso, volta sua crítica àqueles que tomam como absolutas as análises de fatos sociais. 

Para discutir conceitos fundamentais da Etnometodologia, como accountability e reflexividade, Liberman apresentou excertos interacionais de suas diversas pesquisas, principalmente de seus atuais estudos com os degustadores de café e com os monges tibetanos. Kenneth observou, por exemplo, que os degustadores de café objetificam suas impressões por meio de accounts sobre o que estão degustando: ao ter uma account ratificada pelos demais, os participantes a transformam em um fato social objetivo. Tais accounts são, portanto, cruciais para o trabalho em conjunto dos degustadores, uma vez que a sua produção permite que eles compartilhem um mundo comum e “organizem a ordem” (organize the orderliness) entre eles. 
Liberman propõe, ainda, que “uma account ou formulação não só descreve o contexto, ela o elabora”. Accounts são dispositivos para que os interagentes “estejam na mesma página” (to be on the same page). Não obstante, as accounts são naturalmente confirmadas, objetivadas e então “esquecidas”, isto é, elas passam a não ser mais reconhecidas como uma construção social, e são muitas vezes tomadas como regras a serem obedecidas, como mostra o seguinte esquema apresentado pelo ministrante:

ACCOUNT -> CONFIRMATION -> OBJECTIVATION-> AUTHORIZED -> AMNESIA/DISENGAGEMENT

Relacionada a essa reflexão sobre accounts, portanto, está a discussão proposta por Liberman sobre regras. Em um trabalho junto a seus alunos da Universidade de Oregon, Liberman analisou a reflexividade das regras em jogos. Para isso, seus alunos fizeram o registro audiovisual de interações em que jogavam pela primeira vez algum jogo de tabuleiro. Qualquer um dos grupos de alunos, antes de mais nada, começava a ler o manual de regras do jogo. Em seguida, ao notarem que seria infrutífero lê-lo inteiro, os participantes começavam a lidar com as peças do jogo e a construir as regras para ele. Liberman observou que, nesse processo, os participantes passavam exatamente pelas etapas do esquema apresentado acima: no início, eles produziam accounts, que, quando confirmadas, eram objetificadas e se tornavam parte do jogo. Ao final, os mesmos participantes utilizavam as regras para coordenar o jogo e impedir ações que as desrespeitassem, como se elas fossem dadas desde o princípio. 

Enfim, o curso ministrado pelo Prof. Liberman foi uma importante oportunidade para que as participantes pudessem revisar conceitos e pressupostos fundamentais da Etnometodologia. Foi também uma ocasião bastante produtiva para se conhecer pesquisas contemporâneas na área, que, diferentemente das pesquisas iniciais no campo da Etnometodologia, podem hoje contar com recursos audiovisuais para a geração de dados. Neste pequeno relato, não foi possível expor todos os temas abordados ao longo do curso, mas, seguramente, as discussões no grupo de pesquisa ISE serão enriquecidas com as reflexões feitas no curso.


Fabíola, Ingrid e Marcela agradecem ao Prof. Leland McLeary pela oportunidade e pela receptividade demonstrada ao longo do curso.

Fabíola, Marcela e Ingrid na pausa para o café!