quarta-feira, maio 24, 2006

Seinfeld e a Análise da Conversa

Descobri que Jerry Seinfeld, criador e protagonista de um dos seriados norte-americanos mais brilhantes de todos os tempos, além de grande humorista e cronista do cotidiano é também analista da conversa nato. Explico: hoje, assistindo a mais um episódio do seriado Seinfeld (que passa todo dia no SONY, para quem tem tv paga) me dei conta de que o comediante fez várias análises conversacionais interessantíssimas (e pode ser considerado até mesmo um etnometodólogo, eu diria).

E não apenas Jerry, como seus companheiros George (o eterno loser), Elaine (a eterna “adoro problemas”) e Kramer (o eterno louco) também o acompanham nas análises. Quando pensaram em fazer um seriado que fosse sobre o nada, como os criadores da série contaram, sem dúvida apontaram para o nada que faz o cotidiano, ou melhor, o quase nada: as questões micro sociais e políticas que aparecem em uma conversa de bar, numa discussão sobre um sanduíche, família, trabalho, time de futebol, cereais, e assim por diante.

O que mais impressiona é quando os personagens discutem o quanto alguns detalhes de uma conversa modificam as ações dos seus participantes. Dou exemplos: em um episódio que tratava, entre outras coisas, dos favores incômodos que se pede a amigos, Seinfeld chama a atenção para como o tamanho do favor que se pede é diretamente proporcional à pausa que segue o enunciado: “Posso te pedir um favor?”.
No episódio de hoje, houve um momento ainda mais acentuado de análise conversacional. George está narrando para Seinfeld no café que após falar para a mulher com quem estava saindo “eu te amo”, ela imediatamente disse: “vamos comer alguma coisa?”. Seinfeld então analisa minuciosamente: teve alguma pausa ou ela respondeu imediatamente? Qual palavra ela enfatizou, o início ou o final? Qual a ordem em que isso aconteceu? O que eles estavam conversando antes? Aí vemos a análise de aspectos cruciais como silêncios, relevâncias, ordem, seqüência. Trata-se de um grande observador dos métodos pelos quais as pessoas fazem a vida. Didático, simples, sutil e engraçado. E o mais impressionante: tudo isso sem ter lido 74, 77 e os alfarrábios schegloffianos.

E como está na moda publicações do tipo “Seinfeld e a Filosofia”, por que não fazer também "Seinfeld e a Análise da Conversa"?

Lia

5 comentários:

Cé S. disse...

Lia, acho que essa lado do seriado Seinfeld deve-se ao roteirista Larry David.

Grupo ISE disse...

É isso aí, César! Com certeza tem tudo aver com ele! Eu tinha esquecido do Larry!!

Lia

marden disse...

"Seinfeld e a AC" ia ser bacana.

Agora, bom mesmo ia ser se o hipotético livro conseguisse alcançar a façanha de ser tão claro e tão correto que rivalizasse com os seminais-pero-sacais-e-prolixos artigos de Schegloff e cia... Para fins de introdução à disciplina e, quem sabe, como um novo sagrado tomo de referência.

Gabi disse...

Bah, muito bom, Liazita! Apesar dessa série me irritar um pouco...
Concordo com o Marden e estou louca p/ ver!!
Parênteses: César por aqui!! ;) Isso tá virando uma república virtual, hehe! Um abraço, César! :)

Anônimo disse...

muuuuuuuito bom!!! seinfield também é cultura, ou melhor, etnometodologia!
beijos!